Medalhista olímpico, Codó dá partida em CT de atletismo no Maranhão

Mais de 11 anos após o término das das Olimpíadas de Pequim (2008), o atleta maranhense José Carlos Moreira, o Codó, e os companheiros que disputaram na época a  prova de revezamento 4 x 100 metros – Bruno Lins, Sandro Viana e Vicente Lenílson – herdaram oficialmente a medalha de bronze, numa cerimônia especial realizada no Museu Olímpico de Lausanne (Suiça), em outubro do ano passado. Nos Jogos de Pequim, os brasileiros chegaram em quarto lugar na disputa 4×100 metros, ao concluírem o percurso em 38seg24.  Mas em dezembro de 2018, o COI desclassificou a equipe da Jamaica, que havia ganhado o bronze, após comprovar o caso de doping do atleta Nesta Carter. O time de Trinidad e Tobago herdou o ouro e o Japão ficou com a prata. Com mais um bronze, o Brasil passou a somar  17 pódios nos Jogos de Pequim (três ouros, quatro pratas e 10 bronzes).  

Codó – o apelido surgiu em referência ao município de Codó (MA) onde o atleta nasceu –  Codó conversou com exclusividade com a Agência Brasil. O atleta recordou o momento em que recebeu a medalha de bronze das mãos do ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), e também falou o projeto  ‘CT Maranhão/ Pé de Asa’ , idealizado por ele, que pretende formar um equipe de atletismo no estado. Com a medalha de bronze herdada pela equipe brasileira de atletismo, o país passou a ter 17 pódios nos Jogos de Pequim (três ouros, quatro pratas e 10 bronzes).   

Como foi a experiência de receber a medalha lá em Lausanne (Suiça)?

Codó -Foi uma emoção única. Se tornar medalhista olímpico, depois de passar por uma angústia de anos. Não foi a mesma emoção de estar subindo no pódio dentro do estádio olímpico, mas a emoção foi grande. Passaram vários filmes na cabeça. A gente vivenciou esse momento dentro do museu olímpico. Tive o prazer de vivenciar toda a história olímpica, viver aquele clima olímpico. Foi uma emoção muito boa. Sou muito grato a Deus. A organização foi espetacular. Aquele momento foi muito emocionante e foi feita a justiça com a nossa equipe. Fizemos jus de receber a medalha lá naquele museu em Lausane.

Foram mais de 11 anos de espera, né? Em algum momento, você pensou que a medalha não viria?

Codó – A espera foi muito longa. Em vários momentos, pensamos em desistir. Mas eu tinha a consciência de que a hora ia chegar. Apesar da demora de mais de 11 anos, graças a Deus, a gente pôde colocar essa medalha no peito e trazer para casa.

Você ainda mantinha contato com o Vicente Lenílson, o Sandro Viana e o Bruno Lins?

Codó – A gente sempre mantém contato. Eu, o Bruno, o Vicente e o Sandro. Pelas viagens da vida, a gente está se cruzando. Temos um grupo de whatsapp, estamos conversando e sabendo como está a vida de cada um depois do recebimento da medalha. Nunca perdemos o contato, temos uma história. A gente ficou eternizado junto na história do esporte brasileiro. Sabemos quanto tempo demorou para a concretização desse sonho. Temos um laço de união eterna.

E é legal a gente falar que a sua história no atletismo começou por acaso. Lembra para nós um pouco dela.

Codó – Em 1998, quando eu jogava futsal, acabei não classificando para os Jogos Escolares Estaduais do Maranhão (JEMs). Eu queria viajar para São Luís para participar do torneio. E um professor me avisou que eu poderia conseguir a vaga pelo atletismo. E foi aí que tudo começou. Ganhei os 100m e os 200m e me classifiquei para os JEMs. Tomei gosto pela coisa. No ano seguinte entrei na escolinha de atletismo e fui me destacando. Até que surgiu a oportunidade de me transferir para São Paulo para treinar.

E, falando agora do futuro, você está aguardando o final da pandemia para colocar em prática o teu novo projeto, o time CT Maranhão/Pé de Asa? É uma parceria com o Fernando Donatan Braga (ex-atleta e agora técnico)?

Codó – Temos um sonho de transformar o atletismo do estado do Maranhão. Sabemos o potencial e as dificuldades que os praticantes do atletismo enfrentam aqui no estado. Muitos talentos são perdidos sem patrocínio, sem equipe. O Donantan e eu sabemos, vivenciamos muitas coisas e podemos ajudar esses jovens. Estamos aqui para somar e fazer do atletismo maranhense crescer. E que cada vez mais gente possa sair daqui e fazer história ao redor do mundo.

Serão quatro bases aí no Maranhão?

Codó – Temos alguns polos definidos [a capital São Luís, Caxias, Timon e Codó, nome da  cidade natal do medalhista olímpico]. A gente quer que o projeto cresça futuramente para que outros atletas possam ter condições de participar com a gente. A ideia é de crescimento, temos apoio estadual e estamos muito felizes pelo reconhecimento.

Com os atletas profissionais que integram a equipe do projeto ‘CT Maranhão/Pé de Asa’ daria até para formar um time forte para um revezamento 4x100m. Tem o próprio Bruno Lins, que fazia parte daquela equipe de 2008, o Vitor Hugo, o Rodrigo Nascimento e o Flávio Gustavo, integrantes da atual equipe nacional do revezamento. Equipe de peso, hein?

Codó – A equipe muito forte. Temos alguns dos principais nomes do Brasil na atualidade. Possivelmente muitos deles estarão nos Jogos de Tóquio do ano que vem. Sou muito feliz por tê-los com a gente. Trabalhar com amigos é muito bom. Possivelmente, o time estará junto competindo o “Norte/Nordeste”. Queremos mostrar que o Maranhão é uma potência no atletismo nacional.

Inclusive, o Rodrigo e o Vitor Hugo estiveram naquele título histórico do 4x100m da equipe brasileira no Mundial de Revezamentos, em maio do ano passada, no Japão. Uma geração nova e muito talentosa que tem também o Paulo André, o Derick Silva e o Jorge Vides. Meninos bons que têm tudo para fazer história na Olimpíada, né?

Codó – Os meninos foram campeões do mundo e bateram o recordes sul-americano e brasileiro do revezamento [marcas obtidas com os 37seg72 alcançados no Mundial de Doha]. Na ocasião, os brasileiros ficaram em quarto lugar, se classificaram para a Olimpíada de Tóquio e baixaram a marca que durava desde os Jogos Olímpicos de 2000 [37seg90). Tive o prazer de viajar e competir com eles. Os conheço muito bem. Eles ainda vão correr muito, têm muita história pela frente. Não falta talento, humildade e união. Confio demais em um excelente desempenho em Tóquio. Estarei torcendo e dando toda a força. O negócio é seguir firme nos treinos.

O projeto ‘CT Maranhão/Pé de Asa’ vai ter também outros atletas da elite do esporte nacional. Por exemplo, dois que têm, inclusive, os índices para Tóquio: Alexsandro Melo (do salto triplo) e o Eduardo de Deus (110m com barreiras). Como vai funcionar o trabalho com eles?

Codó – A ideia é fazer o mesmo trabalho de várias equipes do nosso país. Esses atletas vão seguir residindo e treinando em seus locais de origem. Eles vão competir pelo ‘CT Maranhão/Pé de Asa’, são contratados para fazer parte da nossa equipe.

E uma projeção para os Jogos Olímpicos? O que a gente pode esperar do esporte brasileiro lá em Tóquio?

Codó – Espero que os brasileiros possam chegar em suas melhores formas. O nosso esporte está crescendo nos últimos anos. Eu confio que o Brasil pode fazer bonito no atletismo. Vou ficar na torcida e passando muita energia positiva para todos eles.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues

Fonte: Agência Brasil